Sagradas Escrituras:
“Palavra de Deus em Palavras humanas”.
Parte
II
“O que é a Bíblia”?
Por
muito tempo a bíblia foi entendida como um conjunto de textos sagrados, e
abordada unicamente como Palavra de Deus. Essa afirmação não está errada, mas
não é apenas isso, pois, se fosse certamente não a conheceríamos, ou não
compreenderíamos seu conteúdo se nela tivesse unicamente a linguagem divina,
devido a limitação humana. As Sagradas Escrituras enquanto Palavra de Deus é
apenas uma das duas dimensões das Escrituras, sendo que a segunda dimensão é a
Bíblia enquanto palavra humana. Diante disso é possível afirmar as duas
dimensões das Sagradas Escrituras, a dimensão teológica e a dimensão
antropologia.
Teológica,
pois é Deus quem fala, é Palavra divina inspirada pelo Espírito Santo, mas
antropológica, pois, chega até ao homem por palavras humanas. Pois o homem para
compreender essa Palavra a ele revelada necessita que seja apresentada em
matrizes humanas, em caracteres que sejam de seu entendimento, assim, a Palavra
divina adquire uma “roupagem humana”, ou seja, é apresentada com elementos da
linguagem do ser humano.
Enfim,
diante disso conclui-se que a bíblia é a “Palavra
de Deus em palavras humanas”. (Papa Bento XVI)
Palavra de Deus
O
termo “palavra” é muito designado
para se referir as Sagradas Escrituras, e com um grande sentido.
Sabe-se
que a palavra é um elemento peculiar dos seres que possuem a capacidade de
pensar, pois, por meio dela o ser humano é capaz de se comunicar. Por meio da
comunicação se revelam as intenções e até mesmo a personalidade de quem se
comunica. Uma das características
atribuídas a Deus é o Logos, ou seja, o “Verbum”.
É possível encontrar essa afirmação no evangelho de São João, logo no primeiro
capítulo onde ele fala que:
No
princípio era o Verbo
e
o Verbo estava com Deus
e
o Verbo era Deus. (Jo 1, 1)
Se
uma das características de Deus é o comunicar, Ele por bondade e decisão
própria se comunica ao homem, se mostrando próximo ao ser humano, também capaz
de comunicação, instaurando assim um diálogo entre ambos por meio da revelação.
“A novidade da revelação bíblica consiste no
fato de Deus Se dar a conhecer no diálogo, que deseja ter conosco”. [i]
Ao
se comunicar ao homem, Deus, aos poucos vai se revelando, o termo revelar aqui
expressa o sentido de retirar o véu, se deixando conhecer pouco a pouco por
meio de sua Palavra. Deus revelou-se por meio dos acontecimentos, profetas e
por fim revelou-se planamente em Cristo Jesus.
“Deus dá-Se-nos a
conhecer como mistério de amor infinito, no qual, desde toda a eternidade, o
Pai exprime a sua Palavra no Espírito Santo. Por isso o Verbo, que desde o
princípio está junto de Deus e é Deus, revela-nos o próprio Deus no diálogo de
amor entre as Pessoas divinas e convida-nos a participar nele”. [ii]
Neste
ponto onde se apresenta a Palavra propriamente dita, e a figura de Jesus como
plenitude da revelação desta, afirma-se o mistério da Palavra e o da Encarnação
do Verbo.
Mistério da Palavra e o Mistério da Encarnação
Como
foi apresentado Deus em sua bondade e por amor ao homem sua criatura, se
comunica a este. A princípio para que ela pudesse ser revelada, Deus se utiliza
de “mediadores”, como os profetas apresentados pelas Escrituras. Mas, como a
palavra divina é apresentada em caracteres humanos para a compreensão, ela
sofre “perdas”, pois a linguagem humana em sua limitação não é capaz de
transmitir tal e qual a Palavra divina é proferida do coração de Deus. Sendo assim,
quando se afirma que Ela sofre perdas ao ser transmitidas por meio de palavras
humanas significa que Ela se reveste de roupagens humanas, mas isso não quer
dizer que ocorra a perda de sua verdade, não deixando de ser a palavra de
salvação ao homem.
Portanto
as Sagradas Escrituras é a Palavra de Deus na lógica da palavra humana, eis o
mistério da Palavra, que é revelada por intermédio de homens no antigo
testamento e que se revela plenamente na Pessoa do Cristo, afirmando o mistério
da Encarnação.
São
João em seu evangelho escreve que na plenitude dos tempos a Palavra se Fez
carne e habitou entre nós. Na encarnação de Jesus, a natureza humana ofuscou a
divina, onde Deus em sua misericórdia decidindo se rebaixar, ao se elevar eleva
junto consigo toda a humanidade. É o próprio Verbum divino que se rebaixa para
se comunicar aos homens e lhes restituir a dignidade.
“Na condescendência de
sua bondade, Deus, para revelar-se aos homens, fala-lhes em palavras humanas:
“Com efeito as palavras de Deus, expressas por línguas humanas, fizeram-se
semelhantes à linguagem humana, tal como
outrora o Verbo do Pai Eterno, havendo assumido a carne da fraqueza humana, se
fez semelhante aos homens”[iii]”.[iv]
(p. 38) 101
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