Ano da Fé
A
FÉ NA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO
“O justo viverá da fé” (Rom
1,17)
A Fé surge e se desenvolve em Israel como forma de
pensar, de sentir e de viver, que encontra na Aliança sua expressão concreta.
Fé e a Aliança estão vinculadas à intervenção libertadora e salvadora de Deus,
a qual perdura e se prolonga ao longo da história. A originalidade da Fé na
Bíblia se manifesta com muita força nesse aspecto de verdade, de presença real
da ação de Deus, dentro da história que vai acontecendo. Assim transparecem a
realidade profunda da Aliança com suas propriedades, reveladoras do Amor
primordial e fecundo de Deus. A
Fé bíblica se desenvolve e se aprofunda graças à palavra dos profetas e à
experiência do povo, especialmente do núcleo mais ou menos amplo e fiel, que
permanece atento à orientação dessa palavra. Assim, antes de tudo, a Fé tem um
caráter histórico e transcendente, Deus intervém na realidade dos
acontecimentos, para orientar esses acontecimentos de maneira soberana. A Bíblia traz como grande
exemplo de fé, Abraão. O Antigo Testamento registra a experiência de um homem
que é considerado nosso pai na fé. A fé de Abraão é um modo de viver perante
Deus e com Deus na história (a sua vida inteira fica comprometida nesta relação
com Deus). A fé de Abraão é uma amizade especial, cheia de confiança mútua
(Tiago 2, 23). Ele andava na presença de Deus, isto é, na obediência da fé. É
docilidade do homem em ajustar seu caminho ao de Deus. O ponto máximo da
obediência é o sacrifício de Isaac (Gênesis 22,2). Deus lhe pede o impossível. Assim
como no Antigo Testamento também no Novo Testamento, bem como na pregação de
Jesus, a fé supõe a iniciativa divina, (Mateus 16, 17). Para o apóstolo Paulo a
salvação vem pela fé, não das obras da lei, (cf Romanos 10, 9). A lei não tem
força de salvação, eficácia em si mesma. Crer é aceitar isto e viver de acordo.
Crer tem como conseqüência a prática de vida. Na revelação bíblica da fé no
Novo Testamento encontramos a afirmação: “O justo vive da fé” (Hebreus 10, 38).
O essencial não é o milagre, e sim a fé. Segundo
o evangelista São João a fé em Cristo é primordial. O homem não pode
apoderar-se de Deus pelo conhecimento, o Mistério de Deus continua sendo aceito
na fé, ainda que manifestado em Jesus Cristo. A fé é dom (Jo 6, 44) e cooperação
humana. Deus vem ao encontro do homem, mas não dispensa a decisão humana. A Fé
surge assim como uma obra da liberdade e da graça, como um movimento do
“coração”, isto é, da inteligência e da vontade, levando o ser humano a dar sua
adesão à Palavra divina. A Graça leva, portanto, à livre opção, a querer
livremente crer e em plena liberdade. O Concílio Vaticano
II reconhece a Igreja como sacramento histórico, comunitário e missionário da Fé.
Ela é comunidade da salvação, criada pela Palavra que transforma os corações
pela Fé. A declaração Dignitatis Humanis
sobre a liberdade religiosa (n° 10) destaca a fé como Dom de Deus e ao mesmo
tempo ação do homem livre. A fé é graça e a fé é decisão, o assento da graça
está no interior que move o coração e o inclina a Deus. A fé para o Concílio
está na resposta do homem a Deus. Por
fim, merece destaque como exemplo de fé, a Virgem Maria. “Bem-aventurada és tu
que acreditaste (Lucas 1, 45)”. O documento de Puebla destaca Maria como, mãe e
educadora na fé (N° 296). Mais que crer na palavra do anjo, sua fé é livre
aceitação e é resposta consciente, interiorizada e profunda. Maria é referência
para as comunidades e para toda a Igreja. Sua fé é busca ardente, acolhida da
fidelidade até ao abandono e a oblação, ela não é um ato isolado, mas uma
atitude que marca toda sua vida, quando se torna fidelidade. Ela é nossa mãe na
fé. Portanto,
a fé não é atitude ocasional é uma opção fundamental, é a síntese do
comportamento religioso humano, é dizer amém com todo ser e todas as consequências.
A vontade de fé se manifesta quando a fé é obediência. A Fé é a totalidade da
vida cristã, encarada sob o ângulo de seu fundamento e de seu começo. A Palavra de Deus é o fundamento e
a fonte da Fé (cf. Romanos 10, 14-17). O objeto integral de nossa Fé é a
Palavra viva de Deus, comunicada por palavras humanas no texto bíblico. Isto
significa que o objeto da fé é a Palavra de Deus na história, centrada em
Cristo. A Fé é o princípio, o
fundamento e a fonte da salvação. O
homem de fé é um homem corajoso, por isso o desânimo e a covardia não combinam
com a fé, ou seja, caminhar na fé é caminhar na salvação. Aqui se destaca a
força salvífica da fé, que cria comunhão. A fé é a resposta a Deus que se
comunica e se revela na Aliança. Que ao longo desse ano da fé possamos crescer
e amadurecer na confiança em Deus. O Catecismo da Igreja Católica destaca a fé
como um dom que permanece naquele que não pecou contra ela. Mas “é morta a fé
sem obras (Tiago 2,26): privada da esperança e do amor, a fé não une plenamente
o fiel a Cristo e não faz dele um membro vivo de seu Corpo” (n° 1815).
A fé viva “age pela caridade” (Gálatas
5,6)
Sem. Anderson
1º Teologia
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